quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS CORDELESCOS

DECASSÍLABOS DESVAIRADOS

A minha terra não é quente
Nem o meu céu é tão celeste
Eu não vejo esse Nordeste
Pintando por muita gente
Meu Nordeste é diferente
Tem pitadas de Art Nouveau
Dadaísmo com licor
Concretismo com pirão
Meu Nordeste não é sertão!
Ele tem outro sabor.

Minha mão pinta sua cor
Da maneira que eu quiser
O meu Nordeste é mulher
O meu sertão é multicor
Nem Nabuconodosor!
Nunca nem viu coisa igual
O meu sertão não é rural
E nem tampouco não é urbano
O meu Nordeste é profano
Rezando no meu missal.

DIÁLOGOS CORDELESCOS

COCO TRAVA-LÍNGUA MORRANIANO - PARTE III


EMBOLADOR 1:
Paca, pacato, pacote
Pária, patrício, padrão
Pajem, pala, palacete
Quadril, quadra, quadrão
Quadro, quantia, quantidade
Quando, qualquer, qualidade
Rabo, rabi, rabadão.

OS DOIS:

Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

EMBOLADOR 2:
Raça, radar, radical
Ranheta, rapé, requinte
Sabá, sabão, sabatina
Senhora, senhor, seguinte
Siba, Sibila, sifão
Taba, tabaco, tacão
Terno, templário, tilinte.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

Letras que podem ser musicadas!

QUEM É DE BENFICA (BEM! FICA!)

Quem é bem! Fica!
Que não é também ficará
Todos no corredor da folia
Espalhando a alegria nesse carnaval.

Vamos invadir a pracinha
Ao som da marchinha
Sensacional.
Vamos jogar os confetes
Olhar as vedetes
Nesse ritual.

Hoje é carnaval
De Pierrô e Columbina
Hoje é o festival
Venha pro bloco, menina!

Quem é bem! Fica!
Que não é também ficará
Todos no corredor da folia
Espalhando a alegria nesse carnaval.

Vamos dançar na rua
A luz da lua
É natural
Vamos colorir a avenida
Com as cores da vida
Fraternal

Hoje é carnaval
De Pierrô e Columbina
Hoje é o festival
Venha pro bloco, menina!

Autoria: Moacir Morran

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS CORDELESCOS

COCO TRAVA-LÍNGUA MORRANIANO - PARTE II

EMBOLADOR 1:
Jagunço, jambo, jamais
Jandaia, jade, janela
Lábia, labuta, lacaio
Lado, ladino, lapela
Lapinha, lapa, Lapão
Maca, maçã, macacão
Maça, maçada, macela.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis

EMBOLADOR 2:
Mosca, moscado, moscar
Nababo, nabiça, nada
Nadir, nagô, Nagoya
Nambu, nanico, nonada
Oásis, obeso, obreiro
Oca, ode, odalisca, ordeiro
Órbita, ordem, ordenada.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS CORDELESCOS

COCO TRAVA-LÍNGUA MORRANIANOS - PARTE I

EMBOLADOR 1
Efeito, efusão, eficácia
Fabrico, faca, façanha
Febre, fecundo, fedelho
Fiambre, fiasco, fanha
Gabola, gadanho, gado
Galinha, gaita, gamado
Garra, garrote, gadanha.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

EMBOLADOR 2
Habitar, hálito, halo
Hachura, haras, hangar
Harmonia, harpa, harém
Ibidem, íbis, içar
Ibope, idade, ideal
Idoso, idílico, igual
Jabá, jabota, jaguar.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

Um aboio

O Contador, Conselho Federal de Contabilidade e a “alegoria da caverna”: uma analogia contemporânea!

Imaginemos aquele sujeito muito reservado e de poucas palavras, ainda que simpático. Ele chega todos os dias, pontualmente, acomoda-se em sua mesa e passa o dia sobre um mar de papel, o que se houve dele é apenas os estalos de seus dedos a tocar a calculadora e o teclado do computador. Vezes por outra, sua atenção se volta para um Regulamento tributário e/ou de Procedimentos Contábeis. Na empresa tratam-lhe como um “apêndice”, ninguém sabe bem sua função, mas quando no seu setor tem algum problema toda empresa sente direta ou indiretamente. Até o próprio sujeito sente-se um “apêndice”, por desconhecer sua própria importância. Não seria esse sujeito análogo aos “prisioneiros da caverna” de Sócrates? O Contador continua acorrentado a crenças e preconceitos, contentando-se com uma réstia de luz cujas projeções (leis obtusas do governo que impede o contador de exercer suas reais funções) alimentam o seu tempo com falsas atribuições.
Como numa espécie de paráfrase da conhecida parábola socrática, podemos traçar nitidamente uma analogia com a condição profissional do contador de ontem e hoje. Por mais que se diga que houve um avanço na área contábil, por si só, esse avanço não libertou os contadores de uma enorme caverna que ainda vivem. E para não se ater apenas ao profissional em si, a crítica também recai sobre os órgãos de representação, inclusive o Conselho Federal de Contabilidade – CFC. O CFC é um órgão que, diferentemente, de tantos outros no país passou em branco na história, não há indícios de sua participação ativa em movimentos sociais e históricos, sobretudo na constituição de leis que estabeleceram diretrizes contábeis, econômicas e tributárias dentro do seio governamental. Onde estava o CFC nas Diretas Já? Na criação do Regulamento do Imposto de Renda? PIS? COFINS? ICMS? Certamente acorrentado a antigos padrões e de dentro de sua caverna o CFC contentou-se com as projeções das coisas, tomando-as como reais, tal como a parábola.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Letras que podem ser musicadas

O MEU CARNAVAL

Vai minha saudade
No estandarte dos carnavais

Vai minha tristeza
Na sutileza dos vesperais. (Bis)

Hoje o meu bloco vai à via
Emaranhara-se de serpentina
Beijar na boca dessa menina
Meu sobrenome é folia!
Eu sou seu Chico!(*)
Aqui na rua de novo!
Sou o bloco do povo
E não pago mico.

Vai minha saudade
No estandarte dos carnavais

Vai minha tristeza
Na sutileza dos vesperais. (Bis)

Quero uma chuva de confetes
Ao som do frevo e da marchinha
O carnaval da minha terrinha
Quando eu era pivete!
Eu sou de Joana!
Aqui na rua de novo
Sou o bloco do povo
De Jaguaruana!

Vai minha saudade
No estandarte dos carnavais

Vai minha tristeza
Na sutileza dos vesperais. (Bis)

___________________________
(*) Chico Zé de Joana, Carnavalesco popular de Jaguaruana, incrustado no meu imaginário carnavalesco

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS CORDELESCOS

COCO TRAVA-LÍNGUA MORRANIANO

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

EMBOLADOR 1:

Abano, abacate, abade
Acácia, acaçá, acalanto
Adega, adendo, aditivo
Babá, babaçu e banto
Boca, bocejo, boquilha
Barra, barrete, barrilha
Cabaço, cabala, canto.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

EMBOLADOR 2:

Cedente, cedilha, cedro
Cabeça, cabaça, carão
Daninha, danoso, dado
Débil, debate, deão
Dica, diário, ditoso
Edil, edital, ebrioso
Encosto, edule, edição.

OS DOIS:
Quero vê você travar
Quero vê você dizer
Mato, massa, maracá
Mutum, muçum, mussambê!(Bis)

DIVINA COMÉDIA URBANA

CIDADE ALCOOLÁTRA


Um cálice de absinto
E eu sinto o gosto desse asfalto
Nas distorções dessa cidade retilínea.

Duas taças de conhaque
E eu de fraque e chinelas japonesas
Descabelo toda a high-society.

Uma garrafa de vinho tinto
E essa cidade me envolve num labirinto
Cujo Minotauro move-se pelos concretos.

Algumas doses de cachaça
E a desgraça copula com a minha paciência
Bem no meio da Praça do Ferreira.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DIVINA COMÉDIA URBANA

OLHAR CITADINO

Em cada olhar citadino
Sinto uma convulsão social
Um incendiário!
Um estrupador!
Um médico
Um doutor
Um psicopata
Um pobre
Um magnata

Em cada olhar citadino
Sinto a fragilidade
da inflexibilidade da razão

Patologia que carregam os são
De achar que tudo é normal
Que tudo é imutável
Que não se deve pedir licença para entrar no banheiro

Em cada olhar citadino
Sinto a vontade de fugir da cidade
Viver na barbárie
Ou na anarquia marxista

Mas poucos são os que
cultivam a coragem
de dispensar sua comodidade urbana!

Em cada olhar citadino
Pergunto-me qual o meu olhar?

DIÁLOGOS CORDELESCOS

ZILDA ARNS - HOMENAGEM EM CORDEL - COMPLETO

Vou render a homenagem
Para quem merece tê-la
No momento em que Zilda Arns
Tornou-se mais uma estrela
A brilhar com galhardia
E no ritmo da poesia
Meu intuito é enaltecê-la.

Os meus versos só são afagos
Pois não chegam à sua altura
Uma lira bem simplória
Que não tem a envergadura
Nem tampouco o seu quilate
Mas é um presente de um vate
Que é ofertado com ternura.

Meu coração está contrito
E a poesia melancólica
O Brasil ficou de luto!
E toda a Igreja Católica
Chora a repentina morte
De uma mulher de alma forte
E trajetória apostólica.

Quem não conhece Zilda Arns
Precisaria conhecer
Um exemplo brasileiro
Que não se pode esquecer
E na lira do cordel
Falo dela no papel
Para quem quiser saber.

Foi no ano de trinta e quatro
Século vinte acabado
Zilda Arns nasceu pro mundo
No tempo está registrado
O marco da heroína
Que a poesia nordestina
Hoje faz ser recordado.

Ela nasceu em Forquilhinha
Bem ao sul deste Brasil
E lá mesmo, começou
A sua vida estudantil
Formando-se em medicina
E devagar nascia a sina
De uma mulher varonil.

E lá em Santa Catarina
Começou na Capital
No hospital de crianças
A sua vida laboral
Nem passava por seu tino
Que este seria o seu destino
No contexto social.

A sua larga experiência
No tratamento da infância
Abriram novos caminhos:
Uma tenra militância
Que marcou sua trajetória
Dentro da nossa história
Com grande significância.

O seu fruto mais fecundo
De altruísmo e pujança
É por todo conhecida
Por Pastoral da Criança
Um movimento sutil
Que ajudou todo o Brasil
A nutrir-se de esperança.

Seja no Norte e no Sul
Em todo Centro e Nordeste
Seja cidade e sertão
Atingindo até o Sudeste
A Pastoral da Criança
Tem reduzido a matança
Da fome, miséria e peste.

O trabalho social
Que é feito pela entidade
Combate a desnutrição
Nos que possuem pouca idade
Sua rede de filantropia
É quem tem parado a sangria
Da nossa mortalidade.

Atuando na saúde
E também na nutrição
As crianças do Brasil
Ganharam mais proteção
Cuidado no nascimento
E no desenvolvimento
Como qualquer cidadão.

Com medidas tão comuns
E a alimentação singela
A saúde das crianças
Campo, cidade e favela
Foi obtendo mais resultado
Do que nem era esperado
De toda aquela cautela.

A pastoral da criança
Espalhou pelo país
O trabalho em mutirão
Cravejando a sua raiz
Nos ensinos de Jesus
E até hoje se conduz
Nas coisas que o Mestre diz.

Mas não só no social
Há também educação!
Pra criança, pais e agente
Os princípios de cristão
Pra se viver de verdade
Como uma comunidade
Construindo uma nação.

E tendo sempre a sua frente
Dona Zilda, a fundadora
Que cuidava da entidade
Com amor de genitora
Que defendeu com nobreza
A supressão da pobreza
Na sociedade opressora.

Por sua grande relevância
Nos trabalhos sociais
O mundo lhe concedeu
Prêmios internacionais
Dentro e fora do Brasil
Premiaram seu perfil
Suas idéias geniais.

E agora me vem o fato
A deixar-me diminuto
O triste fim de Zilda Arns
Foi pra mim um golpe bruto
O meu céu já não é celeste
E toda nação se veste
Tão somente a cor do luto.

O Terremoto do Haiti
Vitimou nossa heroína
Que andejou pelo Brasil
Parecendo peregrina
A cultivar a semente
Da bondade na gente
Como quem tem uma sina.

Uma sina que é marcada
Com toda vivacidade
De ressoar o evangelho
Através da caridade
E de respeitar o irmão
Plantando no coração
O grão da fraternidade.

Bondade não é privilégio
Para qualquer ser humano
Tem que ter a humildade
Se quiser ser soberano
E Zilda Arns do seu jeito
Tornou-se exemplo perfeito
Como o bom samaritano.

Esperar que no Brasil
Nunca apaguem a sua fama
Que tudo que ela deixou
Componha um historiograma
Destes diversos Brasis
Que ela buscou na raiz
Tirá-los do mar de lama.

Seu corpo rendeu-se a morte
Mas a sua alma transcendeu
O seu legado é indelével
E não cabe num museu
Algo importante pra mim
O fato triste não é o fim
Um novo ciclo nasceu.

Eu já cultivo a certeza:
Novas Zildas hão de vim
Como sol que nasce hirto
Namorando o meu jardim
Como a manhã que anuncia
O início de um novo dia
No perfume do jasmim.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Diálogos Cordelescos

Zilda Arns - Homenagem em Cordel - Terceira Parte


E no ano de trinta e quatro
Século vinte acabado
Zilda Arns nasceu pro mundo
No tempo está registrado
O marco da heroína
Que a poesia nordestina
Hoje faz ser recordado.

Por sua grande relevância
Nos trabalhos sociais
O mundo lhe concedeu
Prêmios internacionais
Dentro e fora do Brasil
Premiaram seu perfil
Suas idéias geniais.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ARTE DO ABOIADOR - ZILDA ARNS


Diálogos Cordelescos

ZILDA ARNS - HOMENAGEM EM CORDEL
SEGUNDA PARTE (ESTROFES FORA DE ORDEM).

Com medidas tão comuns
E a alimentação singela
A saúde das crianças
Campo, cidade e favela
Foi obtendo mais resultado
Do que nem era esperado
De toda aquela cautela.

Bondade não é privilégio
Para qualquer ser humano
Tem que ter a humildade
Se quiser ser soberano
E Zilda Arns do seu jeito
Tornou-se exemplo perfeito
Como o bom samaritano.

Esperar que no Brasil
Nunca apaguem a sua fama
Que tudo que ela deixou
Componha um historiograma
Destes diversos Brasis
Que ela buscou na raiz
Tirá-los do mar de lama.

Seu corpo rendeu-se a morte
Mas a sua alma transcendeu
O seu legado é indelével
E não cabe num museu
Algo importante pra mim
O fato triste não é o fim
Um novo ciclo nasceu.

Eu já cultivo a certeza:
Novas Zildas hão de vim
Como sol que nasce hirto
Namorando o meu jardim
Como a manhã que anuncia
O início de um novo dia
No perfume do jasmim.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

UM ABOIO - ZILDA ARNS

Z elando em cada memória:
I magens desta Doutora.
L egados da trajetória
D esta grande benfeitora.
A dentrou em nossa história

A o dedicar-se pastora,
R ebanhando sem vanglória
N ossa nação sofredora.
S alve Zilda Arns com glória!

Um dedo de Prosa dentro da Poesia

UMA OBRA DE DESARTRE

O rosto do Haiti tem tons de ocre
Tons cinza e de vermelho-sangue
O brilho imagético das lágrimas
De um povo varonil já sem exangue!
Quem pintou essa tela nefasta?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Diálogos Cordelescos

ZILDA ARNS – HOMENAGEM EM CORDEL
PRIMEIRA PARTE


Meu coração está contrito
E a poesia melancólica
O Brasil ficou de luto!
E toda a Igreja Católica
Chora a repentina morte
De uma mulher de alma forte
E trajetória apostólica.

Quem não conhece Zilda Arns
Precisaria conhecer
Um exemplo brasileiro
Que não se pode esquecer
E na lira do cordel
Falo dela no papel
Para quem quiser saber.

Ela nasceu em Forquilhinha
Bem ao sul deste Brasil
E lá mesmo, começou
A sua vida estudantil
Formando-se em medicina
E devagar nascia a sina
De uma mulher varonil.

E lá em Santa Catarina
Começou na Capital
No hospital de crianças
A sua vida laboral
Nem passava por seu tino
Que este seria o seu destino
No contexto social.

A sua larga experiência
No tratamento da infância
Abriram novos caminhos:
Uma tenra militância
Que marcou sua trajetória
Dentro da nossa história
Com grande significância.

O seu fruto mais fecundo
De altruísmo e pujança
É por todo conhecida
Por Pastoral da Criança
Um movimento sutil
Que ajudou todo o Brasil
A nutrir-se de esperança.
Seja no Norte e no Sul
Em todo Centro e Nordeste
Seja cidade e sertão
Atingindo até o Sudeste
A Pastoral da Criança
Tem reduzido a matança
Da fome, miséria e peste.

O trabalho social
Que é feito pela entidade
Combate a desnutrição
Nos que possuem pouca idade
Sua rede de filantropia
É quem tem parado a sangria
Da nossa mortalidade.

Atuando na saúde
E também na nutrição
As crianças do Brasil
Ganharam mais proteção
Cuidado no nascimento
E no desenvolvimento
Como qualquer cidadão.

A pastoral da criança
Espalhou pelo país
O trabalho em mutirão
Cravejando a sua raiz
Nos ensinos de Jesus
E até hoje se conduz
Nas coisas que o Mestre diz.

Mas não só no social
Há também educação!
Pra criança, pais e agente
Os princípios de cristão
Pra se viver de verdade
Como uma comunidade
Construindo uma nação.

E tendo sempre a sua frente
Dona Zilda, a fundadora
Que cuidava da entidade
Com amor de genitora
Que defendeu com nobreza
A supressão da pobreza
Na sociedade opressora.

E agora me vem o fato
A deixar-me diminuto
O triste fim de Zilda Arns
Foi pra mim um golpe bruto
O meu céu já não é celeste
E toda nação se veste
Tão somente a cor do luto.

O Terremoto do Haiti
Vitimou nossa heroína
Que andejou pelo Brasil
Parecendo peregrina
A cultivar a semente
Da bondade na gente
Como quem tem uma sina.

Uma sina que é marcada
Com toda vivacidade
De ressoar o evangelho
Através da caridade
E de respeitar o irmão
Plantando no coração
O grão da fraternidade.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

BAU DO ABOIADOR - PARTE IV

“Não te escolhi por acaso para ser discípulo, tu és o único estrangeiro entre nós. Além disso, te escolhi para ser nosso tesoureiro, um cargo de confiança, mas devo dizer que para esse ato foi o próprio Deus quem o escolheu, tu serás o instrumento do Senhor, deixe que dome o seu corpo toda intervenção divina”. Deus é um gênio, o esquema estava feito. E eu acabei ficando com parte suja. No mais, o resto findará naquilo que sempre acreditei, o Cristo será imolado para que Ele sobrepuje a morte e suba ao céu, com toda a honra e glória. E eu imolarei a minha vida num jogo que já nasci perdendo. Sei que minha morte não será gloriosa. Morro à mingua, mas como? Se há um Deus onipresente. Então me suicido diante das retinas de um Deus satisfeito, pois seu plano deu certo. Sei também que Ele me olha como Simão Iscariotes. Por isso o meu sorriso em meio ao sacrifício que minha insanidade bendita me levou a cometer. A silhueta de meu corpo enforcado é deverás fascinante. Estou nu. Cabeça ligeiramente caída mirando um desfiladeiro, o tal abismo talvez seja uma metáfora de tudo que já vivi. Meu corpo esguio sente o vento delicado da Galiléia, enquanto minh´alma descarnava lentamente e dolorosamente de minhas entranhas. Mas a morte ainda burla-me, eu continuo vivo para que veja o meu próprio Gólgota. Morrerei aqui sem sepulcro, epitáfios, e epiódias. Por que me mato? Os estúpidos esquecem que somos velas acesas numa ventania incessante. A morte é a única amásia que não se afasta de nós, estamos grudados aos seus tentáculos invulneráveis. Cada dia não se vive, mas esquivar-se da morte. Hoje não tem esquive, não tem drible, não tem nada. Entrego-me na esperança de, quem sabe, libertar meu espírito dessa carne frágil, para que ela pelo menos fuja de toda cólera e ignorância humana. Mesmo depois da morte – eu sei e sinto isso – serei posto no altar-mor dos enganos e a partir daí meu nome que antes significava “Homem de Queriote” será traição e que seja feita a vontade dos tolos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

BAÚ DO ABOIADOR - PARTE III

SÁBADO DE ALELUIA – O CONTRA-EVANGELHO DE JUDAS

A partir dali não soltei sequer mais uma sílaba, seguindo com os olhos tudo aquilo que o Mestre iria dizer. “É inconcebível para você, ou melhor, para qualquer um. Contudo, a melhor forma de vencer o teu inimigo é dando-lhe a falsa impressão da vitória, entendes?” confirmei com a cabeça, não pude deixar de notar os seus olhos encharcados e vermelhos. “Agora veja, como posso dizer isso a você” naquele instante os seus olhos apontaram para o alto como se buscassem as palavras no ar, depois retornaram a mim ainda mais angustiantes: “Judas, tu me amas?” simultaneamente a cabeça e a boca prosternaram juntas: “Sim”. “Judas, tu me amas?” e disse-lhe de novo: “Sim, Mestre”. “Judas, tu me amas?” desta vez desceram duas lágrimas que riscaram suas maçãs. “Sim, Mestre” lentamente sua boca aproximou-se do meu ouvido e sussurrou: “Atraiçoa-me” marcando-me com um beijo na face direita, quando se afastou continuava choroso. “Isso não é contraditório, como que ama pode trair?”. “Em verdade te digo como não atender ao pedido de quem se ama? Se o pedido, de quem amamos, é tão sublime quanto o Reino de Deus. Se me amas, como disseste, fará o que te peço selando com o mesmo beijo que acabei de te dar”. “Como se abraça um amigo, apunhalando-lhe, não é estranho e sem sentido?”. Foi aí que vi um sorriso franco em seu rosto. “Judas, sem sentido é o mundo como se encontra hoje. Só o amor salva, um amor que foge de todas as lógicas humanas, um amor que não se explica, até porque explicação é uma invenção humana feita para justificar a preguiça de se aprofundar nas verdadeiras essências das coisas”. “É incrível como tudo que sai de tua boca se decanta, até isso que me pedes, tu dizes com uma docilidade que penso ser a coisa mais santa do mundo. Sinto-me como se fosse fazer o ato mais digno da minha vida”. “Quero que você se sinta assim, afinal a minha morte nos tornará triunfantes, lembre-se do profeta Isaias” foi quando as profecias de Isaias se aglutinaram em mim completando o quebra-cabeça de nossa salvação, estava diante do cordeiro. “Quem condenará teu ato aqui na terra? Se a ninguém daqui dei o direito de julgar? Só o meu sangue lavará os nossos males e dará o primeiro passo no declínio dos poderosos”. “Mas diga-me, porque eu? Porque não Pedro, João, André ou qualquer outro discípulo?”.