quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BAÚ DO ABOIADOR

Eu sou um grão desta terra açoitada
Sem água, sem rio, sem nada
Aonde os confins se abraçam
Num baile da fome e da desgraça
E eu quem sou em meio esta farra?
Um sertanejo vestido de sol e poeira
Ou um repentista de alma arranhada
Entoando poesias rasgadas na feira
Sou cada torrão desta terra queimada
Aonde Deus e o Diabo dançam capoeira
Ambos juntos aos negros da senzala
Pulam e dançam no terreiro de Pai Pereira
Sou a voz chorosa de uma beata donzela
A ladainha entoando como prece
Sou, antes de tudo, cabra da peste
Que não se vende e nem se entrega
Sou o Nordeste na sua forma mais tosca
Estou no rosto da lavadeira moça
Enamorando o rio de um forma louca.
Não sou mais que um homem sertanejo
Assim mesmo feio e cheio de desejo
De vê minha terra sempre verde
E não mais sofrer com a sede.

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