terça-feira, 10 de maio de 2011

UM ABOIO

SUSPIROS SOLILÓQUIOS

          O seu gosto persiste na minha boca, revirando as minhas projeções mnemônicas. Tudo me leva a lembrar você, como uma espécie de paranóia. Nas ruas, confundo seu rosto nos rostos das pessoas, penso ouvir sua voz e, por vezes pergunto-me, se você já me esqueceu.  Bin Laden está morto, o mundo todo amedrontado com possíveis atentados e eu aqui olhando a geladeira e imaginando o que você comeu no almoço. Às vezes, encontro-me com seu perfume nos bares e volto ao passado. Doce cruel lembrança que me rasga a carne! No outro lado do mundo lágrimas caem por conta dos desastres naturais e eu choro assistindo uma propaganda de biscoitos; aqueles que ela adora!
            Onde ela está que não me tira essa anátema, afugentando as feras invisíveis da solidão. Não suporto mais o sofá e a televisão! Quero sucumbir às paredes de meu cárcere e rouba-lhe um beijo debaixo dos lençóis. Quero fazê-la sorrir nas manhãs chuvosas ou tempo plúmbeo e conversar sobre as flores que morreram no jardim. Quero versejar no seu ouvido Pablo Neruda com o hálito de um vinho tinto. Ficar em silêncio, cantando com os olhos o que sinto por você, mas solidão como um carcereiro exemplar furta-me o direito de vê-la. Não tenho ânimo, conformo-me em procrastinar o inadiável ao trocá-la por uma garrafa de uísque com o pretexto de suavizar a dor que como um abutre devora a carne pútrida.

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