quarta-feira, 18 de maio de 2011

UM ABOIO


UMA NOITE FELIZ          


Acordou com um troço na cabeça. Aquilo surgiu de repente e resolveu atentá-lo insistentemente, mesmo com as tarefas diárias e suas preocupações financeiras aquilo continuou permeando seus pensamentos. Uma voz cavernosa persistia como um eco infindável: mate alguém! Pediu ao patrão que saísse mais cedo, não se sentia bem e talvez fosse ao hospital. O patrão concordou. Ele foi para um bar, pediu um uísque sem gelo e desligou o celular. Em pouco tempo, tomou quatro dose de meio copo sem pestanejar. A voz interior calou-se, até por isso penso que aquilo tudo era a ausência de álcool no corpo. Pediu a conta, logo depois ligando o celular chamou um táxi. Seguiu para casa. No caminho recebeu uma ligação de Amália, uma amiga de trabalho. “Alô, sim... estou melhor... acredito que foi uma indisposição, mas acredito que é passageiro... não... não precisa se incomodar... eu vou ficar bom... ah! como é? você está na porta da minha casa! Está bom, tudo bem, estou chegando... tá, beijo”. Quando desligou o celular foi tomado por uma raiva, ele odiava que as pessoas se intrometessem na sua vida. Talvez por isso nunca casasse e nem tivera qualquer relação amorosa, estava acostumado a ser uma espécie de ermitão urbano e se satisfazia com álcool, cigarros e internet. A voz tornou com mais intensidade, trazendo consigo o seu eco. O táxi deixou-lhe na porta de casa, pagou o taxista e virando para o lado da casa abriu um sorriso para Amália que olhava as flores no jardim. “são tulipas originárias da Pérsia”. “que susto! Não o vi chegar”. “Desculpe-me, como diria são tulipas”. “Hum, são lindas”. “É, mas a beleza das orquídeas é mais atraente”. “Não vai me convidar para entrar”. “Perdão, a casa está muito bagunçada”. “Eu não me importo e isso é óbvio que a casa de homem só viva eternamente bagunçada” gargalhando. Ele abriu um sorriso miúdo e dirigiu-se a porta, ela o seguiu. Quando pôs os pés na sala vislumbrou um castiçal sobre a sua mesa de centro e sua mente premeditou o crime. Mandou que ela sentasse no sofá, ofereceu um café e foi a cozinha preparar. Ela interveio e disse que poderia fazer o café... aquilo o deixou mais enfurecido.  Sentou na sala e ligou a televisão. “Como você gosta?”. “Aham?”. “O café como você gosta?”. “Tanto faz desde que seja café”. “Vou fazer um capuccino”. “Tudo bem, se você não se incomoda vou trocar de roupa”. No quarto a sua mente outra vez domou-lhe. Ele tirou sua roupa, trocando-a por uma bermuda jeans e uma blusa de algodão. Enrolou o cinto da calça de linho em volta da palma da mão direita e segui para cozinha. Amália coava o café quando foi surpreendida por trás com ele envolvendo o seu pescoço com um cinto e apertando com toda a força. Derramou-se o café sobre a mesa, a mão direita buscou inutilmente puxar o cinto que a sufoca e a outra tentava impedir o seu assassino, mas as suas forças iam sendo vencidas assim como a sua vida se entregava ao fim. Morreu e ele estirou seu corpo no chão da cozinha. A sua bermuda estava molhada, percebeu-se que era sêmen e estava imbuído de um tesão insuportável. Arrancou a roupa da defunta e transou ali mesmo. A noite enterrou o corpo de Amália no quintal e sentiu-se que naquele dia tinha sido o homem mais feliz do mundo.

Um comentário:

Unknown disse...

Conto maravilhoso.Não tenho esse extraordinario dom da palavra mas de literatura , modestia a parte , eu entendo um pouco. E sei quando estou diante de um BOM escritor. Desfecho digno de um bom suspense. GRANDE CONTERRANEO