terça-feira, 6 de julho de 2010

ABOIO UM CONTO

MINHA ÚLTIMA TREPADA - PARTE FINAL

Ela gargalhou, prosternando: “Eu sempre termino o que começo” e depois me beijou. Afastei-me por instante e perguntei:
“Mas que coisa estranha. Nem me lembro de você e estamos aqui transando. Que loucura!”
“E você sabe onde mora razão?”
“Não e você sabe?”
“Também não”
Rimos juntos e paramos juntos de sorrir.
“Mas o que eu não entendo, porque só agora você me procurou e porque eu não me lembro de você”
“Eu lhe procurei agora porque agora é a sua hora. E você lembra-se de mim, sim. Desde o início.”
“Estranho. Desde o início de que?”
“Desde o seu início”
“Meu início?”
“Sim e hoje volto”
“Você é muito espirituosa. Você não aparenta ser tão velha, pelo contrário”
“Tá bom mostre-me de novo os pulsos”
“Desculpe-me, tenho tido dias horríveis, incomoda-te ver isso”
“Nem um pouco, acho até excitante”
“Tá bom, tá certo. Mas agora você veio e me fez mudar de opinião, vou estancar a sangria”
Naquele instante, ela apertou meus pulsos com uma força sobrenatural.
“Ai, que isso, calma... eu vou estancar no banheiro”
“Fica aqui e morre ao meu lado”
“Como? Que isso? Quem é você?”
“Eu sou a morte”
Então morri. Encontraram meu corpo em cima cama.

Um comentário:

Mirella Costa disse...

Caramba! Esse seu conto me retornou ao livro de José Saramago: "As Intermitências da Morte", porém com final diferente... Contudo, muito bom! Safadinho, né você? (risos)