sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

BAÚ DO ABOIADOR

(POESIA REVISADA POR GUAIPUAN, GRANDE POETA E CORDELISTA)

REDES DE JAGUARUANA - LITERATURA DE CORDEL


Nossa rede de dormir
A sua origem vou falar
É Pataxó, é Carajá
Guarani, Jê e Tupi
É potiguar e Cariri
Duma gleba descendente
Que nos doou esse presente
Patrimônio da nação
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


Um produto brasileiro
Que se deveria admirar
“O leito suspenso no ar”
Que já cativou o estrangeiro
Desde o tempo primeiro
Da invasão delinqüente
A rede é sobrevivente
Da grande exterminação
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


E começou co’a mulher
Pois só existia teceloa
Que fiava numa boa
Acredite se quiser
Contudo hoje essa arte é
Coisa de homem somente
O tecelão é aderente
Das pioneiras da fiação
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


Mas essa arte bem tecida
Tem o cheiro do meu povo
Que canto em verso novo
O produto duma lida
Feitas por mão esquecida
Quase que constantemente
Uma injustiça inclemente
A uma gente sem proteção
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

A aranha tece uma casa
O tecelão tece a vida
Na labuta reprimida
Como um pássaro sem asa
No ofício nunca atrasa
Por ser muito eficiente
Um artesão reticente
Que enamora o batelão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


Ao ver meadas ao ar
Desnudas e debruçadas
Colorindo nas calçadas
A vida desse lugar
Nesse ritmo a labutar
Vai fazendo o seu presente
E o seu futuro iminente
Com vigor e decisão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


Vai-se tecendo fio a fio
Na pancada do tear
O “artefato de deitar”
Insígnia de nosso brio
E por isto eu sentencio
Duma maneira decente
Com versos quase repente
Escritos de coração
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.


E vai tecendo o amanhã
Junto aos galos no quintal
Rompe o dia virginal
Com sua labuta artesã
Constrói arte mais que sã
Do que o horizonte rente
No alvorecer displicente
No dia do ganha-pão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

Entrançando cada cor
Como quem ouro lapida
E a cada rede que é obtida
Co’o esforço de seu labor
Introduz com mui primor
Seu talento reluzente
Que se mostra evidente
Em suas redes de algodão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

Eu conheço a tijupana
Olho de peixe, sol-a-sol
Só para falar do rol
De algumas redes bacanas
Que aqui em Jaguaruana
São feitas perfeitamente
Pelo reflexo da mente
Duma falange de artesão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

Também a rede-sofá
Mais um invento fecundo
Que encantou todo o mundo
É algo que vou registrar
O inventor foi Josemar
Que é daqui naturalmente
Merece solenemente
Toda nossa gratidão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

Não esquecendo o ermitão
Que este verso aqui destino
O amigo Juarez Delfino
Alvissareiro e artesão
Que viajou até o Sudão!
Divulgando diretamente
Nossa arte brilhantemente
Em tudo que era rincão
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

A nossa Jaguaruana
È a terra da tecelagem
Ainda é posto à margem
Numa disputa sacana
Com tributos que se esgana
A condição deprimente
Dum enorme contingente
Que vive dessa ocupação
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

E dessa forma opressora
A decadência é visível
Sendo certo e previsível
Que jaz a fonte produtora
Duma forma assustadora
Vergonhosa e demente
E que impiedosamente
Nos carrega pra extinção
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

É preciso uma atenção
Se possível redobrada
Para coisa que é cantada
Nessa glosa de ocasião
Que se encontra na sua mão
E você ler lentamente
Esse poema indigente
Que tem o vulgo refrão:
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

Pois saiba você leitor
Que devemos ajudar
Buscando então preservar
Nossa rede com vigor
Um produto de valor
Cada vez clarividente
Que numa reta ascendente
Só nos traz confortação
Tece, tece, tecelão
O amanhã da minha gente.

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