domingo, 17 de outubro de 2010

UM ABOIO SACRO-POLÍTICO OU POLÍTICO-SACRO

POLÍTICA E RELIGIÃO NO PROCESSO ELEITORAL DE 2010: SERÁ QUE HÁ UMA GUERRA SANTA ELEITORAL?

          Ao ver a religião agindo tão diretamente na disputa eleitoral, lembrei-me de algumas passagens bíblicas que vão de encontro ao que os líderes religiosos têm feito nos últimos dias. Observa-se nitidamente a convergência entre dois elementos dispares outrora: política e religião. Líderes religiosos, atualmente, têm declarado os seus votos aos candidatos nas suas homilias, cultos e na mídia, alguns com o intuito tendencioso de mudar os votos de seus rebanhos numa espécie de voto de cabresto religioso. Não estou aqui para recriminar os líderes religiosos que exercem sua liberdade de expressar o voto, contudo se utilizar de sua função para fins de beneficiar A ou B, induzindo seus adeptos na escolha de seus candidatos ao confundi-la com questão de fé – para mim – é um pecado hediondo. É tolher a livre escolha e misturar duas instituições de natureza antagônica: Igreja e Estado.

          O próprio Cristo no Evangelho de Mateus versículo 15 ao 22, já dava sinais de que Igreja e Estado tinham caminhos diferentes, nessa parte esta aquela magistral frase: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” apesar de inúmeras significações que há somente nessa frase, percebe-se a intenção de Cristo de afirmar que há uma separação nítida do Estado e do que se convencionou chamar de Igreja. Jesus sabia que a mistura de religião e política naquela época (e ainda hoje) era nitroglicerina pura, era comprar uma briga que não era do seu métier. Sem falar que na época que a invasão romana incitava o ódio entre os hebreus e apenas uma palavra contra os romanos de qualquer líder religioso resultaria num genocídio em massa. Certamente Jesus era contra a invasão romana e os fariseus ao testá-lo também sabiam disso, contudo a sabedoria do Redentor o fez se pronunciar de uma forma indireta acerca de sua insatisfação sem cair para lado tendencioso. Algo que falta aos líderes religiosos de hoje. Outro fato em que Cristo explica essa separação está no interrogatório com Pilatos, quando este acha que o Nazareno queria ser rei dali, o Cristo o corrigi dizendo que o seu reino não era naquele mundo. O Estado e/ou reino da terra seria representado por homens responsáveis pelas coisas que se limitam ao mundo sem vínculo de espiritualidade, já o Reino dos céus somente o Senhor é rei responsável pelas coisas de espiritualidade. No livro de Jeremias versículo 5 há seguinte recomendação: “(...) maldito o homem que confia no homem, e faz da carne seu braço, e aparta do coração do Senhor!”, essa frase serve para os lideres que dizem confiar nos seus candidatos. No versículo 7 do mesmo livro, complementa-se com a seguinte frase: ”Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor.” Percebe-se mais uma vez uma nítida separação.

           Hoje, observando lideres religiosos endeusando ou creditando fé cristã a candidatos A ou B e, pior, criando na disputa eleitoral uma falsa impressão maniqueísta de que há o candidato do capeta e o candidato de Deus é brincar com a crença, vilipendiando as instituições religiosas. Não se pode aceitar essa atitude mesquinha e podre. Reitero as instituições religiosas não deve ser apolíticas, longe de mim isso. As igrejas têm posições que devem ser defendidas por serem alicerçadas na fé, questões como: defesa da vida, a não liberdade sexual, proteção da família, entre outras. Defender idéias e evidenciá-las nos seus ritos no sentido de conscientizar seus adeptos é uma atitude sadia e digna de elogios, agora defender nomes e ou partidos é deturpar as funções das instituições religiosas e colocar em xeque as suas credibilidades.

           Espero que essa campanha eleitoral esdrúxula sirva de lição para todos nós sobre os limites do Estado Laico e das Instituições Religiosas, coisa ainda nebulosa dentro de nossa sociedade. Depois que passar essa guerra santa eleitoral vai ser necessário retorna esse debate sobre Igreja e Estado, desprovido dos sentimentos e sob a luz da decência.

Um comentário:

Mirella Costa disse...

Arrasouuuuuuuuuuu! Um texto digno de publicação em todos os jornais! Você como sempre um analista político atento. rsrsrs Beijos