terça-feira, 12 de outubro de 2010

UM ABOIO

As almas hibernam depois do meio-dia de domingo. Os cachorros não ladram, as casas se fecham e as ruas solilóquias parecem ansiar a vinda abrupta da segunda-feira. Nas cidadezinhas o primeiro dia da semana é o segundo dia; o domingo é do Senhor. Aliás, as únicas coisas a quebrar a inércia dominical eram os badalos do sino da Igreja-matriz, anunciando a missa da noite. Nisso, os cães voltam a latir pelas vias, as casas se abrem sorrateiras, as almas enfeitam-se para eucaristia e o passeio na pracinha. Ouve-se o arrastado das alpercatas, os toques dos sapatos e os estalos dos saltos, pisando nas pedras toscas do velho calçamento. A melodia das ladainhas, espalhadas pelas mãos de D. Edith no órgão, entranhavam-se nas almas que seguiam para a Matriz. Depois da missa, um passeio despretensioso pela pracinha, jogando conversa fora, paquerando as meninas tímidas e comer pipoca do Nezim. Talvez fosse para alguns aquela singeleza um tanto enfadonha e muitos vociferavam como sendo o pior dos marasmos. Porém havia algo poético naquilo e mais: aquela vida mansa e, aparentemente, inerte talvez fosse à única paz tão almejada por grandes nações!          

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