segunda-feira, 19 de abril de 2010

UM ABOIO

BARRABÁS - O MESSIAS DE SANGUE - PARÁGRAFO 2


Nem sempre fui Barrabás, escondia-me no medo que fora repassado a boca miúda por minha gente, contudo mesmo medroso havia algo dentro de mim que me provocava mal-estar. Eu tinha o contentamento tolo ante o domínio sanguinário dos etruscos que ia me torrava a última migalha de paciência. O ódio só veio explodir dentro de mim no silêncio párvulo que o medo me proporcionava, diante de um assassinato que presencie na adolescência: ”Era um homem pobre, nunca soube de seu nome, que tinha apenas uma ovelha. A qual seria abatida para o sustento de sua família, naquele dia um cobrador de impostos juntamente com dois centuriões confiscou-lhe a criação sob o pretexto de tributos sonegados a César. Os gritos exacerbados do homem chamaram a atenção de todos que formaram um imenso círculo ao redor do evento. Ali estava eu com meu pai, particularmente foi uma cena forte. O pobre pastor revidou segurando a ovelha com veemência como se fosse uma prole, no mesmo instante os centuriões intervieram imobilizando-o, logo depois um dos centuriões puxou uma sica e cravando-a no jugular do pobre homem deu por fim toda aquela discussão. A trupe criminosa retirou-se levando a mísera ovelha”. Naquele dia o ódio beijou-me a boca e conheci o grande amor da minha vida: a sica! A morte daquele homem verteu-se em uma alucinação que até hoje me persegue. Antes que eu continue devo salientar que não sou um sujeito transtornado e minhas faculdades mentais não são indomáveis. Aquela cena sangrenta foi meu ritual de passagem, a partir dali percebi que deveria ter discernimento de adulto... que precisavam de mim. Quem? Não sei. O que sei era que eu precisava de uma sica, com ela teria um poder extra-humano que ninguém podia me dar. No mesmo dia ao chegar a casa, peguei um naco de madeira e esculpi uma sica igualzinha ao do centurião. Aquele artefato concebido pelas minhas mãos tornou-se meu único passatempo. As tardes, eu ia para um terreno baldio manipulá-la incansavelmente, criando acrobacias e golpes friamente calculados. Passei dois anos de minha vida exercitando-me como se preparasse para uma guerra que ao primeiro momento só existia na minha cabeça.

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