terça-feira, 4 de maio de 2010

BAÚ DO ABOIADOR

ODE DA SOLEDADE

Soledade;

Até os monásticos regozijam a concupiscência

Quando os murros íngremes amputam-lhes o horizonte

Nem me recordo de minha última quimera

Recuso-me de vez entrever Pablo Neruda

E onde tu estavas quando cortei os pulsos

As paredes tornaram-se meu próprio mausoléu

Esperei as tuas flores, mas elas não vieram

Por quê?

Soledade;

Frívolo. Entre os silvícolas me sobreponho jocoso e frio

Desgarrado de teus templos e devaneios santos

O meu infortúnio é a minha passagem para a heroicidade

Mesmo que eu seja um herege mítico de Deus

E onde tu estavas quando me prostrei inebriado

Nas catedrais e lupanares de um Deus onipresente

E mais uma vez esperei tua benção, mas ela não foi dada

Por quê?

Soledade;

Que o céu desabe sob meu frontispício magro

E os imbecis podem vomitar na minha poesia

Já esqueci como se faz um soneto

Meu brasão está quebrado, e o livro?

Onde tu estavas quando me afoguei

Os arranha-céus arranharam minha alma

E você nem veio para costurar os retalhos

Por quê?

Soledade;

Sou um homem corroído pelos abutres de seda

Um poeta de bar, amante das amazonas

Soledade;

Soledade, soledade regressas mais tarde

Deixe-me um pouco em paz.

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