segunda-feira, 12 de novembro de 2007

UM ABOIO TRISTE

Amigo de Bairro; Amigo de Sangue. Meu Adeus ao Marcelo!

Um retrato mnemônico ainda preserva as cores e esconde-se por entre o emaranhando de neurônios do meu cérebro, no intuito de manter-se vivo e não ser devorado pelo monstro do esquecimento. Na minha tão paupérrima infância, ele estava ali... nunca fomos amigos tão chegado. Mas éramos do mesmo bairro e de certa forma compartilhávamos a mesma miséria. Eu era da Rua 2 que era primeira via do conjunto habitacional e ele era da Rua 1 a segunda, um paradoxo assim como tudo que é bom e poético. Tivemos uma educação diferente. Eu me restringi aos livros e loucuras indescritíveis aqui e ele batalhou e cresceu na vida como um brasileiro que nasce sem muitas perspectivas, mas com uma monumental vontade de viver. Seguimos caminhos adversos, porém análogos em um sentido; a honestidade e a decência, sobretudo ele. Eu ainda posso tropeçar pelo caminho, ele já não corre esse risco.
Marcelo é mais para se tornar um número (as pessoas depois que morrem viram números estatísticos) nos índices que entopem nossas cabeças. Para mim, era uma pessoa íntegra, um jovem que galgava seu caminho com retidão e respeito. Com o consentimento da mãe, os seus órgãos foram doados para amenizar a fila de espera pelo transplante de muitas pessoas. E até na morte Marcelo dá uma lição de vida para todos nós.

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