sexta-feira, 16 de novembro de 2007

UM ABOIO

CONFISSÕES DE UM PEREGRINO ABOIADOR


Minha peregrinação é lânguida, mas tão saborosa quanto uma coca-cola gelada. As pegadas que marquei nesse chão parcimonioso contam por si só minha história. Os olhos negros guiam-me misteriosamente por caminhos que parecem claros, mas a sua claridade ofusca a verdadeira clareza que há. Por diversas vezes degustei desse solo: piçarra, argila e areia, em cada canto há um gosto novo de terra. Traguei os venenos e os antídotos misturando o jeito agridoce de viver. E foi isso, eu vivi. Entreguei-me ao imprevisto que previsivelmente será tecido pelas mãos de Deus, peguei carona, dormi no chão, comi de tudo e muitas vezes nada comi. Só assim percebi a pequinês de um mundo gigantesco e como eu um grão de areia errante, carregado pelo vento da audácia, tinha conhecido a parte mais minúscula do micro-planeta Terra. As alpercatas que cobriam meus pés da nudez morriam pelo caminho como se a sua única de viver fosse andar até soltar as tiras e desgastasse com o tempo.
Minha peregrinação é lânguida, mas tão prazerosa quanto uma ejaculação. E essa sensação é que fazer ter a certeza que eu nasci para caminhar sobre a face desse planeta.

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