quarta-feira, 5 de setembro de 2007

DIÁLOGOS CORDELESCOS

O AMOR QUE É VISTO EM TUDO



Em tudo que eu contemplo
Eu só vejo o meu amor:
Uma torneira pingando
A aba do ventilador
A radiola tocando
Lá no Zé Encanador(*)
Dois pardais namorando
Um liquidificador

Para tudo que eu olho
Eu só vejo minha paixão:
Uma manchete de jornal
Um corpo estendido no chão
Uma beata no missal
Vela, defunto e caixão
Minhas cuecas no varal
Uma cuia de feijão.

Olhando qualquer paisagem
Eu só vejo a minha amada:
Um jumento relinchando
Uma calça cagada
A criança reclamando
Minha roupa engomada
Uma rede balançando
Um tropeço na escada!


(*) Lupanar (pra não dizer cabaré!) localizado em Aracati-Ceará

Nenhum comentário: